segunda-feira, fevereiro 27

Lembrança da Neve



Verão

Por vezes o caminho se tornou difícil

E o coração de um samurai aflito

Procurava abrigo

Sol.

Numa montanha a mesma menina

Esperava tranqüila

No mesmo jardim,

Na mesma montanha,

O dia.

E seu coração se aquecia

Brisa.


Outono

O vento quente de outrora

Lentamente desaparecia

O rosto do samurai escondido

Lentamente aparecia.

A vida passava

E tão lentamente o bambu crescia.

.

Inverno

As pegadas geladas na neve

Apontam o caminho do guerreiro.

O mesmo que desafiou a montanha

E compadecido fez um jardim

Que encantado

Amou.

Agora caminha.

Para onde?

Vida.

A montanha sobrevive

O jardim queimado pela neve

Resiste.

E a menina sob a neve fina

Espera.

O quê?

Uma flor.

O bambu ainda não floresceu,

E a procura ainda não terminou.

Porém o motivo ainda não congelou.

Que motivo?

Voltar e esperar.

Voltar para onde?

Uma flor.

Esperar pelo quê?

Uma vida.

Na primavera,

Um esperava o inverno

Um esperava o verão.

Mas o que realmente desejavam?

Um momento

E o que tinham?

Uma lembrança.

Uma lembrança da neve.


[mar/2008]

O SAMURAI E O PÁSSARO




O inverno enfraquece
e a neve silenciosamente derrete.
Sentado defronte ao jardim,
um samurai se pergunta:
'Por quê?'

Por quê quando se tropeça,
se pode cair?
Por quê quando se entristece,
se pode chorar?
Por quê quando se sofre,
se pode perder?
Por quê quando se é silêncio,
se pode gritar?

O ventou soprou timidamente.
E a aflição de um pequeno pássaro, se ouvia.

Tão pequeno. Caído.
Tão pequeno. Sozinho.
Tão pequeno. Lutou.
Tão pequeno. Vôou.

E o vento soprou novamente.

O samurai olhou dentro de sí,
E mentalmente respondeu.

'Se cai para que se encontre mãos fortes,
para levantar o corpo.

'Se chora para que se aceite,
a derrota com o coração em paz.

'Se perde para que se encontre,
uma armadura mais resistente.'

O samurai se levantou.
E respirando forte. Gritou.

E a neve começou a cair novamente.



[mar/2008]

terça-feira, fevereiro 14

Pedaço





Não.
Por mais que te digam,
Honestamente, não dá.

Mas..!

Não. Não dá!

Não dá pra sentir,
Se não passou fome.
Não dá pra falar,
Se nunca ouviu.
Não dá pra enxergar,
Quem deveras não viu.
Não dá pra chorar,
Se nunca amou.
E ninguém entenderá a dor,
Que não passou.

Ahh! Essa dor.
Fatídica... Quem é que nunca passou?
Mas há sempre maior veemência na MINHA dor.
A dor alheia? AAhhh... Não era BEM uma dor.
O mais engraçado é que não físico.
Muito menos explique a física.

Essa dor, amigo,
É metafísica.
Quem sabe... Surreal.
Ou melhor mística.
Talvez rime melhor com outrem...
Comigo, realmente não rima.

Ahhh.. mas essa dor cria monstros.
Medrosos,
Assustados.

Uma barreira feita de areia.
Uma muralha feita de espinhos.

Mas sempre tem AQUELE vento...
Ou.. Aquele jardineiro.

Enfim, talvez você tenha razão.
Eu realmente espero,
Que a SUA dor,
Seja realmente, MUITO, mas muito mesmo,
Maior que a minha.

quarta-feira, fevereiro 1

Será?




Será que vai dar certo?
Será que vai funcionar?
Será? Será?

Eu já tentei aceitar,
Mas já desisti de entender.
Tudo é tão complicado,
Mas será que deve ser ajustado?

Tão justo quanto aquele jeans,
Tão perfeito quanto aquele vestido.
Eu não quero nada de linho,
Eu não quero nada de seda,
Eu só quero que valha a pena,
Então pode ser barato,
Pode ser recortado,
Então pode ser de algodão.

Já nem quero entender,
Já nem quero compreender.
Tudo que eu quero é aceitar,
Tudo do jeito que está.
Tudo do jeito que é, não que foi, nem como será.

Aceito o que você me der,
Então me aceite,
Do jeito que eu sou.

Então se for, que seja.
Se não for,... será?